terça-feira, 6 de novembro de 2018

Como está sua fé na vida?


- E quando meu corpo morrer, minha alma ainda será sua, Claire. Juro, por minha esperança de ganhar o céu, que não serei separado de você. Nada se perde Sassenach, só se transforma.

– Isso é a primeira lei da termodinâmica.

– Não. Isso é fé.

Era um diálogo de Claire e Jamie, personagens da série Outlander, no primeiro capítulo da 4ª temporada: America the Beatiful, que estreou hoje na Fox, mas essas frases calaram fundo na minha alma.
Há dois dias, eu viajei para São José dos Campos na tentativa de descobrir o motivo de sentir tanta dor na parte mais funda entre os meus seios.
Não é o tipo de dor que dá para ignorar.
Ela parece começar em um osso, que me contaram se chamar Esterno, mas há momentos que eu a sinto começar atrás da nuca, descer, rodear o meu braço até chegar ao meio do meu peito.

As pessoas ao meu redor me dizem todo tipo de coisa:

- São gases, relaxa.

- Se você estivesse infartando já teria morrido uma hora desta.

- Câncer não dói. É uma doença silenciosa.

- Você está triste ou amargurada?

Eu fiquei sabendo que nesta parte do corpo fica o chacra do equilíbrio, chamado de cardíaco, responsável por nosso amor incondicional, por nossa doação e amor ao próximo.
Ele também diz respeito a nosso amor próprio.
Sinceramente, estou contando sobre o chacra porque achei interessante você saber, mas na hora que u ouvi não levei a sério. Talvez, você também não leve, sei lá.
Por mais que eu tente, não consigo imaginar o que pode estar me deixando tão triste a ponto de provocar essa dor em mim mesma.
Só sei que nos dias que antecederam a minha decisão de ir a São José dos Campos fui perdendo o humor e imaginando o que aconteceria se eu morresse.
A minha ginecologista, uma senhora nordestina, sem papas na língua e cheia de vida, após constatar que não tinha nada grave comigo fisicamente, me fez algumas perguntas:

- Você tem caminhado na orla da praia e respirado fundo para sentir o cheiro do mar?

- Não.

- Você se alonga quando acorda, levanta os braços bem no alto, movimenta a cabeça, boceja com calma...

- Não.

- E os seus filhos, você está sofrendo da síndrome do ninho vazio?

- Está tudo bem. Fica um vazio, é verdade. Mas, eu fico feliz em saber que estão bem. Só isso importa.

Eu contei que há poucos dias, eu tinha levado um tremendo susto porque apareceu uma mancha no útero da minha filha, mas que depois ficamos sabendo que era apenas uma infecção.
Neste clima de confissão, contei também que tinha perdido uma amiga muito querida de uma hora para outra, vítima de um AVC hemorrágico.

- Ela estava tão feliz, você precisava ver como ela ria, eu jamais poderia imaginar que alguns minutos depois ela teria um AVC? Cheguei a pensar que fosse problema de pressão, sou uma tola.

- Olha, quer um conselho? Disse a médica. - Pare de sentir medo. Isso não vai impedir o curso da vida. O que você pode fazer contra o destino?

Pois é, eu tive vontade de gritar nesta hora e dizer que é exatamente do destino que eu tenho medo.
Eu perdi a fé na vida - aquela mencionada no início do texto pelo personagem Jamie – que me fazia acreditar que nada se perde e tudo se transforma.
Eu tenho visto coisas absurdas acontecerem com pessoas tão boas, mas não tinha percebido o quanto essas dores me transformaram.
Eu, hoje, sinto medo do meu destino e das pessoas que eu amo.
E, desde que voltei de São José, isso tem feito eu me perguntar:

- Se a minha vida vale tanto a ponto de eu sentir medo de perdê-la porque eu não tenho caminhado na orla da praia ou alongado o meu corpo quando acordo?


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