segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O lado negro da lua



A lua tem suas fases, mas nunca me disseram que tinha dois lados. Eu fiquei sabendo disso, há pouco tempo, no início do meu curso de astrologia.
Decidi compartilhar esse conhecimento com você, por sugestão de um leitor do blog. Talvez, ele mesmo seja um estudioso de astrologia, eu não sei.
Mas, como estava contando, eu estava no curso de astrologia, olhando fixamente o meu mapa astral, tentando desvendar os mistérios que residem em mim, quando algo me chamou a atenção.
- Que lua estranha é essa Gio?
- Essa é a Lilith, a Lua Negra.

Estátua babilônica em terracota atribuída a Lilith de 1.500-2000a.C
 
E foi assim que fiquei conhecendo o mito da Lilith, uma mulher que foi rejeitada e condenada até os dias de hoje por não ter aceitado permanecer em segundo plano, abaixo do seu marido.
Lilith é um mito, citado em diversos manuscritos religiosos, inclusive na Bílblia, quase sempre como sendo um demônio feminino.
Na Cabala, Lilith é considerada a primeira mulher de Adão, acusada de ser a serpente que levou Eva a comer o fruto proibido.


Lilith como serpente em pintura de Michelangelo, em 1510 dc

O mito também é citado na interpretação da criação humana no Gênesis feita no Alfabeto de Ben-Sira, entre 600 e 1000 d.c, onde conta que Lilith e Adão foram criados com o mesmo pó, portanto, eram iguais.
A minha imaginação terrena, poluída e pecadora (talvez traços da Lilith que resiste em mim?) foi atiçada.
Quase posso ver a imagem de Adão traindo Lilith, que já estava meio desgastada pelo casamento e questionadora, por uma menininha frágil, mas com um corpo fabuloso, chamada Eva.
Tal como uma cena de cinema, Lilith, enciumada, decide fazer da vida do casal um inferno e se disfarça de serpente.

Lilith como a serpente em pintura de Rafael Sanzio, em 1508 dc

Primeiro, ela rasteja e enrola, inicia uma conversa sem eira e nem beira. Depois, convence a inocente Eva a provar da maçã e, por fim, a ter noção da sua condição de pecadora.
Eva sente vergonha e a vida com Adão deixa de ser um paraíso. O que aconteceu depois disso a gente já sabe: dor no parto, trabalho duro para conseguir o sustento, acabou a vida mansa.
Lilith e Eva deram início a uma geração de mulheres que carregam uma tremenda carga de culpa.
Se você até hoje não entendia porque se sentia culpada em todos os segundos do dia, ora por não estar presente com os filhos, ora por não dar conta do marido ou por trabalhar demais, agora já sabe.

Lady Lilith por Dante Gabriel Rossetti (1828-1882)

Mas, eu me pergunto: Deus ficou assistindo a tudo isso sem fazer nada? Claro que fez.
Ele expulsou a primeira mulher que atormentava a vida do seu filho e arranjou-lhe outra esposa mais carinhosa.
Está vendo como os homens sempre se protegem?
Isso só confirma aquilo que eu já desconfiava: quando a família resolve se envolver demais no casamento, acaba causando um estrago maior.
Mas, depois Ele deve ter refletido e mudado de estratégia, afinal às vezes é errando que se aprende, e instituiu o livre arbítrio.
Lilith foi a primeira feminista. Sem modelo para copiar, ela exagerou e pagou o seu preço.
Para fugir das mesmas consequências, existem mulheres extremamente reprimidas e infelizes, que não tem a força de Lilith ou a coragem de Eva.
Se a primeira mudança nos rumos da humanidade aconteceu a partir de um pecado, porque alguém ainda acha que pode alcançar a santidade?
Eu desisti disso há muito tempo e escolhi alguns pecados para pecar.
Prefiro os expansivos como a ira e a gula. Não controlo a preguiça e, em determinadas situações, me entrego à luxúria. Confesso que tenho uma ligação perigosa com a soberba.
Da mesma forma procuro selecionar os meus amigos pelos seus pecados. Por exemplo, não suporto o egoísmo, a avareza ou a vaidade. São pecados que enganam.
Sabe aquele amigo que sempre se doa um pouco menos do que poderia? Sorri um pouco menos, se diverte menos, chora menos. É o primeiro a ir embora. Nunca come a última fatia. Nunca elogia, não ri até perder o fôlego ou chora no final de filme de amor.
Ou aquele conhecido que se sente poderoso por causa de um cargo ou condição social e que pode ajudar, mas não se importa ou não se envolve. Faz menos, sempre menos do que poderia.
Sou descendente de mulheres pecadoras, não quero perder tempo com mesquinharias e adoro celebrar a vida.





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