domingo, 15 de fevereiro de 2015

Ela vai embora, e agora?


Após um período de trevas, marcado por grande ansiedade, finalmente, no início do ano, veio à tão aguardada notícia: Minha filha foi aprovada no vestibular.

Nossa... que alegria, que felicidade...

Choramos e rimos juntas. Ligamos para todos da família para dar a notícia e, por alguns dias, respondemos às mensagens dos amigos agradecendo pela torcida, confiança e sei lá mais o que.
Nas primeiras horas, eu não tinha percebido o quanto essa notícia alteraria as nossas vidas.

Aliás, foram tantas decisões que tivemos que tomar que mal tem sobrado tempo para conversamos sobre como será a nossa vida daqui pra frente.

Eu sei que ela está um pouco assustada, em alguns momentos já confidenciou que não sabe se está tomando a decisão certa, tanto com relação ao curso quanto a ir morar em uma cidade distante, onde não conhece ninguém.

Nem sempre tem sido fácil manter o otimismo para incentivá-la a seguir em frente. Como a adulta desta relação, não posso fingir que a vida não seja um risco e que pra ser feliz precisamos arriscar de vez em quando, não é?

Mas, já tiveram dias em que eu falei para ela não ir, para ficar um pouco mais em casa, comigo, se não tem certeza do que quer.

– Faz um cursinho, que tal uma viagem de autoconhecimento?
Sempre que isso acontecia, era como se ela recebesse um novo fôlego e teimosa decidisse seguir em frente com seus planos, sua vida.

Depois foi a vez de sair à procura de uma casa para ela morar. Nós vistamos tantos e tantos apartamentos, uma verdadeira maratona. Uns eram escuros demais e outros destruídos demais.

- Mãe, só quero um apartamento iluminado. Não precisa ser grande e nem bonito. Só precisa ter luz.
Como negar isso a ela? Luz?

Mas, engana-se quem pensa que isso é fácil encontrar em uma kitnet no centro de uma cidade grande. Quem já foi procurar, sabe bem o que estou falando.

Nós vistamos dezenas de imóveis até que encontramos. 
Ficamos tão felizes! Saímos dali e fomos direto comprar coisinhas para a casa dela. Tapete, quadros, panelas, escorredor de pratos...

Claro, que isso é o de menos. Mas, assim foi. Aos poucos nós fomos nos acostumando com a ideia até chegar a geladeira, fogão e perceber que não tinha mais volta.



Foi gostoso deixa-la escolher as coisas para sua casa e perceber que nossos gostos são, na verdade, bem parecidos.

Mas, agora, falta pouco. Na próxima semana, a minha filha começa a universidade.
Não posso mais ignorar que ela terá uma nova casa, novos amigos, que eu provavelmente não conhecerei, enfim, uma vida longe de mim.

No começo, talvez, ela ainda precise de um tempo para se equilibrar, conquistar confiança, mas logo vai ganhar fôlego e seguir o seu destino.

Por mais que eu me preocupe, sei que cada um constrói sozinho a sua história, a partir das suas decisões, de suas escolhas.

Quando os filhos são pequenos, os pais decidem por eles. Quando crescem, temos que confiar que conseguirão tomar suas próprias decisões.

Ninguém pode ser protagonista da vida de outra pessoa. Até mesmo os pais, em certo momento, precisam se contentar em ser coadjuvantes.

Mesmo porque nós, pais, não viveremos para sempre.

Quanto mais tempo os filhos demoram a seguir o seu caminho e aprendem a fazer suas próprias escolhas, mais aumenta a chance de que se tornem dependentes e sofram a nossa falta. 

Eu não quero isso.

Quero uma filha independente e que continue a ser feliz apesar do que possa acontecer comigo no futuro.

Eu sempre tive muito claro que a vida é transitória, sei que estamos de passagem e que o elo que nos une é o amor verdadeiro, como o amor que sentimos uma pela outra.  

A partida da minha filha para a faculdade é o início de uma corrida de passagem de bastão.

Estou entregando a ela o direito que é dela: de viver a própria vida. Ser feliz, independente de mim.

Ela ainda não se conhece muito bem, mas longe de mim terá essa oportunidade.

Em sua casa, fará as coisas do seu jeito. Não será obrigada a comer salada ou feijão, já que não terá a mãe para obriga-la.

Mas, por outro lado, quem sabe ela descubra que gosta dessas comidas mais do que imaginou?

Ou que gostava muito de quando eu a perturbava para comer essas coisas e mais ainda da minha cara contrariada quando ela se negava a experimentar?

Mas, o fato é que daqui pra frente ela fará as suas escolhas.

Já avisei a ela que suas escolhas sempre terão um impacto em mim, bom ou ruim. Para que, se for possível, lembre-se disso. Não maltrate muito o meu coração.

Será tolice pedir isso? Talvez, talvez...
Mas, pense: o que mais posso fazer neste momento?

Eu só posso ficar aqui, onde estou agora, observando e torcendo para que a vida seja boa com ela.

Tão boa quanto foi comigo quando a colocou em minha vida.



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