quinta-feira, 26 de março de 2015

Crônica | Não fale com estranhos



Quando os filhos são pequenos escutam dos pais o conselho para que não conversem com desconhecidos.

Até o dia em que eles descobrem que é impossível conhecer inteiramente uma pessoa, tudo o que passa na sua cabeça e no seu coração. 

Se mal nos conhecemos, como esperar que possamos conhecer outra pessoa? 
Descansando ao lado da sortuda "desconhecida" moradora de Paris


A minha tia sempre dá um exemplo bacana para alertar sobre a nossa falta de capacidade para enxergar o outro.

Ela diz: - Nós não conseguimos ver nem as nossas próprias orelhas como podemos saber o que se passa no coração e na mente de outra pessoa?

Nós convivemos por muitos anos com algumas pessoas e elas sempre são capazes de nos surpreender.

Uma tarde divertida com o "desconhecido" compositor Johnny Mercer em uma pracinha na cidade de Savannah (EUA)


Talvez porque o nosso mundo interior seja tão maior e complexo que não cabe em um olhar ou sequer pode ser decifrado em palavras.

Quem são os desconhecidos que os nossos pais tanto temem e nos ensinaram a evitar a qualquer custo?

Certamente não são os desconhecidos da fila do banco ou com quem conversamos enquanto esperamos os filhos saírem da escola. Pense: que mal eles farão se não podem quebrar o nosso espírito ou dilacerar a nossa alma.

A verdadeira ameaça é  o desconhecido que chamamos de amigo porque quanto maior a distância que mantemos de uma pessoa, menor será a chance dela nos colocar em uma situação de perigo real.

Já o amigo, que conhece todos os nossos pontos fracos, esse sim pode causar um dano irreparável em nosso coração.

Você assistiu ao filme Sniper Americano, que conta a história real de Chris Kyle (Bradley Cooper), atirador de elite das forças especiais da marinha americana?

Durante cerca de dez anos ele matou mais de 150 pessoas, tendo recebido diversas condecorações por sua atuação na Guerra do Iraque. Apesar de ter sobrevivido a guerra, ele foi morto quando passou a confiar que era possível recuperar pessoas perturbadas e feridas.

A ferida do corpo, visível aos olhos, por mais feia que possa parecer é possível identificar e curar.

Já as marcas que uma pessoa guarda dentro de si é um mistério e tentar desvendá-lo nem sempre acaba em um final feliz.

Como ninguém é feliz sozinho, às vezes para ser feliz é preciso arriscar. Mas, se fizer isso, vá com calma.

Não abra seu coração para qualquer pessoa. Nem todos os perturbados ou feridos tem recuperação e, se você não tomar cuidado, pode ir parar no fundo do poço junto com eles.

O perigo é falar com um amigo desconhecendo a sua verdadeira intenção.

Como diz a música Engenho de Dentro, de Jorge Bem Jor:


Eu em prosa e verso com Fernando Pessoa. Meu escrito "desconhecido" favorito.


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