terça-feira, 7 de junho de 2016

Caminhos de Santiago de Compostela - 5ª Semana

Por Sonia Lopes
Diário da Sônia - De Granja Moreruela a Santibáñez de Valdeiglesias



Dia 26 - Granja de Moreruela - Benavente - 31,5 km


Que dia intenso!! Tipo montanha russa. Foi duro me despedir dos peregrinos que foram pelo caminho Sanabres.  Achei que estaria sozinha pelos 4 dias finais da via de la plata até Astorga.  Mas me sobrou um holandês maluco para fazer companhia.



Trecho fantástico hoje. Pouco usado pois  pouquíssimos peregrinos vão para Astorga.  Muitas das setas estão encobertas pelo mato, e em algumas partes mal se vê o caminho. Fiquei agradecida pela companhia.
Aquele tempinho de chove e pára continua por aqui, atrapalhando a vida de peregrino.  Mas até que passou rápido.


Lento foi atravessar a periferia de Bonavente.  Sinalização péssima na estrada da cidade para variar. E chegando ao albergue que fica na saída, havia um impresso avisando que as chaves estavam na oficina de turismo. Cadê a oficina? ? Ô vida dura. Lá fomos para o centro monumental. Uma subida atrás da outra até chegar na catedral. E nada da oficina. Depois de 30 km cada passo é custoso. Perdi o holandês de vista... começou a chover de novo... ai meu Deus! 


Olhei para cima e... Hostal Universal. Demorô! Deixa o albergue todo para o holandês que eu vou ficar por aqui.  Amanhã é certo que nos encontraremos ou no caminho ou no próximo albergue. Tem banheiraaaaaa! Me afundei na água quente por 1 hora e depois fui conhecer a cidade.
Me avisaram no hostal que poderia conhecer o Parador.  Hotel chicão que funciona no castelo. Tirei onda no bar que fizeram em uma das torres bebendo um vinho.


E no bar, fiquei sabendo que havia menu para peregrinos no restaurante 5 estrelas!  Nooooooooó!  Imagina se eu iria perder essa. De sandálias havaianas com um pouquinho de barro nas barras da calça (a outra estava secando no hostal), entrei no salão espetacular com aquele passinho característico de peregrino... e jantei sozinha como uma rainha no meio da granfinagem.


O Menu tinha assinatura. Em outros tempos, ou compraria uma roupa para jantar lá, ou só iria se tivesse companhia, ou ficaria constrangida. Meu Deus, como eu era besta.

Dia 27 - Benavente - Alija de los Infantados - 20,6 km


Acordei tarde... 8:00hs. Como o trecho era curtinho, esperei abrir algum bar para tomar café antes de sair. Dia lindo, sinalização boa, um único bar (medonho) em uma vila no meio do caminho.
Caminhei um pouco tensa hoje. Não vi nenhum peregrino e apertei o passo.
Quase na entrada de Alija senti uma fisgada na face externa do tornozelo esquerdo.  Ainda bem que o albergue estava próximo. Mas, me preocupou bastante. Dorzinha suportável, porém pode significar encrenca.  Das grandes.


Reencontrei uma peregrina alemã que não via há mais de 20 dias! Ela me emprestou uma pomada de Voltarem. Tomei um comprimido, fiquei deitada um pouco, mas a fome venceu o medo e fui procurar um lugar para comer.
A Marlies me viu saindo e foi junto... tipo apoio moral muito frequente entre peregrinos. No caminho havia uma farmácia... o farmacêutico garantiu que passando a pomada, amanhã eu estaria boa para andar. Mais uns passos e encontramos outro peregrino que nos mostrou a igreja e as ruínas de um castelo. Algumas risadas e fotos depois, meu tornozelo estava incrivelmente melhor! É... Como o psicológico interfere. Impressionante.


Vou aproveitar o wifi do restaurante e finalizar meu diário aqui mesmo. O albergue é bem isolado, não tem wifi por perto e quando voltar não sairei mais. Fui.

Dia 28- Alija de los Infantados - La Bañeza - 23 km

 
E a alegria de acordar sem dor? Confesso que fui dormir com medo. Já pensou ter que parar no finalzinho da via?
Saímos eu e a Marlie rumo a La Bañeza sabendo que haveria 2 pueblos onde poderíamos parar para descansar e coisa e tal.
Lindos pueblos e lindos caminhos. Mas nada é perfeito, né?  Lá pelas tantas... terço final, o caminho nos jogou em um lindo campo florido que se transformou em um charco fedido e sem sinais.


O mato tampava tudo! A tortura levou mais de uma hora. Molhei as botas. E molhar as botas significa bolha! Cheguei nesta linda cidade fedendo que nem gambá.  Já lavei as roupas, as botas, passei na farmácia, agora estou esperando a comida no restaurante e aproveitando o wifi. 

Amanhã acabo a Via de la Plata em Astorga. Durmo lá e pego um buzão para León onde me encontrarei com minha amiga Anna Maria, para seguirmos juntas hasta Santiago pelo Caminho Francês! Eita que já passei da metade!!!

Dia 29 - La Bañeza - Astorga - 25km


 Último dia de Via de la Plata...
Saímos eu e minha amiga alemã, as 7 horas para escapar do sol que já se faz sentir. Tudo lindo e maravilhoso!  Nada de dor. Sinais claros. Os bares e cafés ainda estavam fechados.
Andamos uns 4 km e o caminha ficou sem graça... plantação enorme de batatas quando de repente aparece do nada uma casa rural perdida. Entramos, lógico.  O lugar era lindoooooo!  E nos serviram um café da manhã magnífico por 3€.


Inacreditável.  A via é assim. Um campo florido se transforma em um banhado fedorento. E uma plantação de batatas em um lugar super acolhedor com um big café da manhã.
Atravessamos um lindo parque de mais ou menos 10 km sem problemas. Coisa linda! A Marlies resolveu dar um tempo em uma sombra e combinamos de nos encontrar no próximo pueblo 8km à frente.


  Me perdi!!! Cara... não acreditei. Não via mais sinais... putz! Continuei andando... Cheguei a um pueblo depois de 2 horas e perguntei onde estava. Estava longe. Resumo: andei 8 horas até chegar a Astorga.  Estava tão por fora da rota que só descobri que era Astorga quando estava dentro da cidade.


Ô viazinha difícil! Fui direto à Catedral.  Encontrei minha amiga e vamos nos despedir. Amanhã ela segue para Rabanal del Camiño e eu vou de bus para León.


A Via de la Plata foi uma montanha russa de emoções.  Um leque de situações inesperadas.  Exercício de paciência. Teste de resistência e isolamento.  Tive raiva do descaso com os sinais em várias situações que me tiraram do sério.


Escolho guardar as lindíssimas paisagens, as cidades romanas, os caminhos ensolarados, o estar sozinha nas tormentas e me sair bem, os inesquecíveis companheiros e os campos floridos. Mas, sabendo que o pântano fedorento existe. E é importante prestar atenção aos sinais.

Dia 30 - Astorga - Lión ( ônibus )

De hora em hora, conforto e rapidez por 3€. Mas que sensação edtranha olhar pela janela e ver peregrinos... impressiona a enorme quantidade.



Neste trecho,  o caminho é quase todo ao lado da "carretera". É muita gente nesse caminho francês. Ô lôco.


Chegando ao albergue Santa Maria de Carbajal Benedictinas, expliquei que havia concluído a Via de la Plata desde Sevilha até Astorga, e que vim de ônibus para León. 

Disseram que não havia problema e que eu poderia ficar aqui por até 3 dias.  Chiqueeee! (confesso que senti uma pontinha de orgulho. Ninguém é perfeito!)
Agora é esperar a Anna que deve chegar amanhã...

Dia 31 e 32 - León - Villadangos del Páramo - 22km

No trigésimo primeiro dia do Caminho de Santiago eu fui uma turisgrina. Primeiro pq minhas novas colegas peregrinas precisavam de ao menos um dia para se recuperarem da longa viagem do Brasil até aqui. Sim... duas pq a Cláudia, minha irmã, que havia desistido da peregrinação, veio de surpresa com a Anna Maria.
O hospitaleiro aceitou que elas passassem duas noites no albergue. Fiquei tão eufórica que mal dormi! E segundo pq eu precisava de um refresco depois da via de la plata. Ontem passeamos e compramos o equipamento que ainda faltava.


Hoje pegamos o caminho cedinho! Gostei muito de apadrinhar as duas com as vieiras e ajudar com os ajustes das mochilas e cajados. Sensação muito boa poder colaborar com esse momento delas. Curti!!
Dia nublado e perfeito para percorrer a etapa que poderia ser de 7,5 ou 22 km. Primeiro dia... pique total.


Quando chegamos aos 7.5, perguntei se queriam enfrentar os 22 e vieram sem chiar até Villadangos. Pudemos parar duas vezes... lanchar, tirar as botas, papear...
O senhor Agapito, figura folclórica do Caminho Francês, estava lá oferecendo regalos para os peregrinos. Nem vi o tempo passar. Foi uma delícia!


Estamos no albergue municipal. As duas já se comportam como velhas peregrinas.  Lavaram as roupas, se viraram. 


A Claudia até cozinhou e a Anna fez acupuntura no próprio joelho! Sussas e de boa. Daqui a pouco um rolê pelo centro...  Mas já preparei o espírito delas para as dores que terão amanhã...

Dia 33 - Villadangos del Páramo - Santibáñez de Valdeiglesias - 16km



 Saímos por volta das 7:00 e a primeira parte do caminho não era lá muito interessante. Chuva ameaçando sem cair... e uma trilhazinha ao lado da auto estrada com tráfego intenso.


Lá pelas tantas a Cláudia começou a apitar por causa dos caracóis (ela tem pavor) que são muito comuns aqui na Espanha. Estes aqui até que estão pequenos.  Imagina se ela visse aqueles grandões negros que chapiscam as trilhas em outros pontos!
Vixe! Foi um custo impedir que ela fosse pelo acostamento (espaço preferencial dos bicigrinos) mas passou logo e seguimos tranquilamente por uma caminho sem caracóis. Ufa!


Na sequência passamos por Hospital de Órbigo e entramos em um espaço maravilhoso daqueles cuidadosamente preparados para fazer qualquer peregrino esquecer os tropeços. Almoçamos e seguimos pq ainda era muito cedo para parar.


Dividimos este trecho que seria de 28 km em 2 pq acho demais para as duas. Se bem que estão tirando de letra... sei que podem mais. Mas, temos tempo... para que correr?

Todas sorridentes e sem bolhas. Se aparecer alguma será nos dedos das mãos de tanto tirar fotos! Eita! Rsrsrsrs
Amanhã Astorga de novo! Já estou ficando conhecida lá...


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