domingo, 23 de setembro de 2018

O feitiço do amor em uma manhã de domingo



Ela segurou o incenso nas mãos e começou a rodar pela sala, com tamanha suavidade, que nem a brasa ousava cair para não quebrar o encanto.
A música tocando na vitrola... “só sei vi - ver se for por vo - cêêê...”. Ela estava cantando.
Ele ficou olhando a cena, com tamanho carinho por aquela mulher sendo menina, que soltou um suspiro.


Quem ousaria dizer agora que uma mulher com cara de sono, pijama largo e cabelos desalinhados não era sexy?
Quem ousaria?
Só quem não tivesse uma mulher solta como aquela, feliz, leve como a fumaça que saía do incenso...
Ocupando todos os cantos da casa, ela agora andava devagarzinho, com o incenso nas mãos, parecia estar recitando algo.
O que será que ela estava dizendo? 
Curioso, ele queria chegar perto, mas tinha medo de quebrar o encanto, caso se aproximasse demais.
Ficou torcendo para ter algo a ver com ele, com os dois, com os filhos e com a casa.
Gostava de pensar que, além do universo, ela guardava dentro dela esse mundo particular, que foi construído pelos dois e estaria no altar mais alto e venerado, no espaço inusitado chamado amor.
Ele ficou olhando ela caminhar pela casa - ou estaria flutuando? - e pensou que suas manhãs de domingo não eram qualquer coisa.
Enquanto isso, o aroma doce foi tomando conta dos quatro cantos do seu mundo. 
Piscou duro, uma, duas, três vezes e conseguiu segurar as lágrimas antes que caíssem dos seus olhos. 
Colocou as lágrimas de volta e deixou que regassem o seu coração, onde sentiu que nasciam flores e todas tinham o nome dela. 
Repetiu baixinho o nome dela. A única flor do seu coração. 
Se deixou florir, se deixou enfeitiçar pelo cheiro da fumaça, o ritmo e a voz da esposa. 
Estava enfeitiçado.
Pensou: - Que seja!


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