segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Viver para morrer em paz


Li no facebook esta semana que os “ultra-ricos”estão preparando um mundo pós-humano.
De acordo com o texto do escritor Douglas Rushkoff, conhecido por sua associação com a cultura cyberpunk, uma elite super, super poderosa, com condições de investir e colocar em prática projetos que visam um “mundo melhor”, decidiu que nós, pobres mortais, não valemos esse investimento.
Se você não faz parte desta turma já deve ter percebido a falta de empatia, mas pode estar se perguntando porque “diabos” os “ultra-ricos” acham melhor começar um mundo do zero do que ajudar a arrumar esse que já existe. Que cálculo é esse, afinal? 
Pois é, pelo que eu entendi eles acreditam que enquanto a humanidade existir o fim do mundo será inevitável, como jogar dinheiro ao vento.

Aliás, eles não dizem Fim do Mundo, chamam de “Evento” o desastre ambiental, a agitação social, a explosão nuclear, o vírus incontrolável ou os hackers-robôs que vão destruir tudo.

Superado o espanto que essa decisão estratética dos ultra- ricos pode ter causado em você, vamos as especulações...

O que os “eles” estão planejando? Para onde eles vão...Claro, que com tanto dinheiro a última coisa que querem é um bando de gente comum atrás deles. É segredo.

Mas, pelo que o escritor deixou escapar, estão em dúvida entre o Alasca e a Nova Zelândia, lugares onde acreditam que o impacto climático será menor.

Se você já correu no Google para ver quanto custa uma casa nestes países ou foi pesquisar as roupas apropriadas para temperaturas extremas e até já está pensando em um jeito de falar com os filhos sobre uma pequena mundança de continente, sem que eles te odeiem para sempre... é preciso antes que entenda uma coisinha.

Os “ultra-ricos” não vão se mudar para o Alasca ou onde quer que seja para serem incomodados por humanos, como nós.

Não pense, por exemplo, que você os encontrará nas ruas, bares ou sei lá onde eles vão para curtir uma balada ou tomar uma cerveja gelada (eles fazem isso?)

Eles pretendem construir um universo particular nestes lugares, um verdadeiro bunker auto- sustentável. Eles pretendem se isolar da humanidade.

Eu estava lendo sobre isso e me lembrei de um livro que eu terminei de ler há poucos dias, “A Morte de Ivan Ilitch”, de Tolstói.

É sobre um juiz que nunca demonstrou interesse verdadeiro pela família, amigos ou trabalho, apenas cumpriu com aquilo que se esperava dele. Além disso, dedicava tempo a assuntos sem importância, como os móveis da casa ou o corte de cabelo da filha.

Ele contrai uma doença desconhecida, dolorosa e começa a definhar aos poucos. As pessoas ao redor dele não compreendem o seu sofrimento, acham que está exagerado e quase o consideravam um incômodo.

Ao compreender que vai morrer, o juiz passa a questionar a vida: Pode ser só isso mesmo? E se for, o que fazer?

De certa forma esse juiz e os “ultra- ricos” que planejam um mundo pós- humano são muito parecidos para mim. Escolheram viver isolados para se pouparem dos problemas do cotidiano.

Isso também me fez refletir: - Como eu quero morrer?

Será que é melhor fazer como os ultra- ricos? Viver mais, mesmo que seja num mundo desumano?

Ou será melhor viver sem pensar na quantidade do tempo que ainda resta, mas em como aproveitar cada instante ao lado das pessoas que eu amo e fazendo aquilo que realmente gosto?

Uma vida sem sentimentos é a morte mais triste que eu posso imaginar.

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